23 outubro 2009

especulações sentimentais na cadeira do dentista

enquanto o dentista arranca o dente, que estava tão dificil , tudo passava em sua cabeça - o amigo que suicidou-se no dia do seu aniversário, o  outro amigo que morreu (tudo esse ano) , o caderninho de poemas que nao veio, as perdas - entre tantas - o que era um dente? a filha que tinha acabado de arrancar 2 dentes de uma vez só? a dor, a raíz da dor? onde era a dor maior? naquela boca? na alma? no coração? o que faria da saudade, da tristeza, da angústia?? deveria chorar como sempre chorava no dentista?que trauma de infância ,o que?!! já era uma senhora,  resolveu ser forte, pensar em coisas piores, deixar o dentista trabalhar, reclamou de dor de novo,mais 2 anestesias, enfrentou sem uma lágrima, lembrou da mãe morta, e por um momento pensou que sua arcada superior ia se quebrar em mil pedaços, que o dentista ia quebrar sem querer outros dentes, lembrou dos dentes lindos dos filhos, lembrou que nao quer ser uma velhinha banguela, mas que também entende por que velhinhos nao cuidam mais dos dentes - não querem mais sorrir, a morte fica ali na frente ,então eles ficam sérios,tentando enganá-la...
quando tudo acabou , pagou, foi pra casa e ficou sentada em frente a televisão -quer melhor anestesia? dormiu, sofreu mais um pouco com dor, acordou no dia seguinte com o corpo todo dolorido e a sensação que perdera uma parte de si, mais uma, visivelmente localizada na arcada superior, doía-lhe o seu não-dente !

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