05 janeiro 2009



depois de assitir O Passado,
só esse poema,
pra lembrar de uma caixa de memórias
e ler esse poema infinitas vezes...




DAS DORES DE AMOR – E DE TODAS AS OUTRAS QUE SE PARECEM COM UM ESPINHO ATRAVESSADO
(Huguera)


Mastigar a dor
Sorver cada gota do seu caldo amargo
Cheirá-la,
Prová-la,
Reconhecê-la.
Catar dentre todas as outras
- dessa seção de achados e perdidos que é o mundo –
a sua personalíssima dor
Estar com ela
Andar com ela
Viver com ela.

Assimilar a dor
Tirá-la do cabide no começo de cada novo dia
Ajeitá-la,
Esticá-la,
Vestí-la.
Ficar dentro dela
- como quem usa um suéter bem velho, quentinho e confortável -
Enquanto se arruma,
Enquanto se perfuma,
Enquanto ensaia uma cara de felicidade em frente ao espelho.
Desafiar a dor
Chamá-la pra brincar
O cabo-de-guerra,
O braço-de-ferro,
O comigo-ninguém-pode
Ou qualquer outro jogo
- de regras inventadas –
Perder...
às vezes,
Ganhar...

Esquecer-se da dor
Deixá-la em algum canto escuro da rua
Escarrá-la
Vomitá-la
Transfundí-la para alguma boca oportuna
- achada no meio do caminho -
mostrar-se displicente dizendo
“boa noite”
ao encontrá-la na cama
te esperando pra dormir.

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