PIPA: um brinquedo que voa baseado na oposição entre a força do vento e a do fio segurado por uma criança(ou adulto). É feita de papel que tem a função de asa, sustentando o brinquedo ao ar livre, de preferência UM CÉU .
CRIANÇA : Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, criança é um ser humano em "peculiares condições de desenvolvimento, devendo ser, em todas as hipóteses, respeitados." e no artigo 16, parágrafo IV: “O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: brincar, praticar esportes e divertir-se.”
PRÉDIO : Construção que possui vários andares, onde as pessoas moram - pode ser grande ou pequeno, ter vários cômodos ou ter apenas 3 espaços como o prédio acima - chamado kitnete - corredorzinho mínimo, banheiro minúsculo e um quadrado de mais ou menos 3 x 3m , onde podem morar de 1 a várias pessoas - no caso acima, moram 3 crianças e 1 adulto. Geralmente tem um síndico para por "ordem" e um zelador "pelego". E pessoas adultas que esqueceram que um dia foram crianças. Um prédio, raramente tem um espaço para as crianças brincarem, espaço pra empinar pipa, nem pensar !!!!
BRINCAR: “[...] as crianças e os animais brincam porque gostam de brincar, e é precisamente em tal fato que reside a sua liberdade”.Huizinga (1980, p. 320)
Eu poderia falar de outras definições do brincar , tema tão estudado e abordado, nas últimas décadas, mas nem sempre respeitado pela Sociedade em geral, principalmente em instituições escolares.
Mas, olhando essa foto que fiz hoje, da janela do meu 6º andar, quero apenas relembrar da importância que o brincar possui, da sua força e da sua poesia. Onde já se viu , empinar pipa do corredor de um prédio, num 3º andar? (adorei a transgressão, apesar de me preocupar também) .Era o espaço possível. Duas crianças, 2 meninos, entre 8 e 10 anos brincavam de pipa, e dividiam entre si , pois a brincadeira era manter a pipa voando....e o desafio : não muito longe . Crianças e pipas presas na possibilidade do concreto. Nada de grandes voos, nada de correr pelas ruas. Ainda tinha mais uma criança, de uns 3 anos, que eles também se revezavam - entre cuidar e brincar.
Numa cidade onde a verticalização toma conta, me pergunto que espaços sobrarão para as crianças brincarem, de fato? Onde estão os quintais? Onde estão as praças e seus domínios a serem explorados? Se brincar deriva do latim vinculum, que significa laço, união e criação de vínculos, como criar e perpetuar esses vínculos para a criança exercitar sua criatividade, sua compreensão de mundo ?
Falo da minha realidade, questiono as possibilidades do meu entorno, sabedora que sei de que ainda em muitas periferias, apesar de tudo, crianças brincam pelas ruas, de pipas, que voam, voam ao sabor do vento, das nuvens, voam pra longe - pro céu. Na nossa cidade caiçara, não existem pipas - existe ganância de quem pensa arranhar o céu !
fotos: Isabel Nascimento