Show Cancioneiro de Boal com Tom Zé, Zezé Motta e Juçara Marçal.
Sabia de antemão que não seria um show "do" Tom Zé, seria um show em homenagem a Boal, C O M a participação de Tom Zé.( é - não dá para escrever "do mesmo" - pois Tom Zé não é o "mesmo" - ele nao cabe nessa palavra.)
O show começou no teatro "arena" do Pompeia, com todos os músicos silenciosamente se posicionando, sentados - (Tom Zé quando sentou, de tão baixinho, sumiu da minha vista), para minha ansiedade...
Juçara Marçal inicia o espetáculo - cantando, contando histórias da época da ditadura e declama, de forma magnanima - MEU CARO AM IGO, música feita pelo Chico para o Boal, ali pelos anos de 76(Boal estava exilado , lá pras bandas de Portugal) . Juçara conseguiu nos contextualizar historicamente, sem perder o ritmo, a poesia, o encanto.
Então entra Tom Zé... Canta, brinca, dança, conversa contando "curiosidades" da ditadura, não deixando que o peso existente na época nos caísse nos ombros naquele momento, portanto, sem esquecer que essa mancha um dia existiu.(E para isso estávamos ali - para homenagear, relembrar Boal, um homem que ,por impulsionar a reflexão crítica, foi exilado).Falou de tudo com humor, irreverência, mas nem por isso perdendo, sua relevância histórica.
Tom Zé brinca com o hino à bandeira, recriando um verso que me deixou particularmente emocionada -
"Salve símbolo
Augusto Boal"...
Ao cantar Vai , (Menina amanhã de manhã), nos surpreende com uma sainha branca rodada, colocada na hora, e nos diverte com seus rebolados...Remexe as cadeiras e o público vai ao delírio, entre gritinhos e assovios...
Zezé Motta entra em cena como uma deusa - sua postura e lindeza e voz, e eu tento reconsiderar sua grandeza quando letras escapam a memória e ao papel..(Se Chico esquece as próprias letras...). Senti um fio solto no espetáculo, mas que após alguns arremates, transformou-se num impecável cerzido, quando a própria Zezé acompanhado ao piano,retoma sua grandeza vocal.
E Tom Zé retorna e toma conta do palco, dos músicos, de toda plateia.
Ponto alto - a viúva de Boal, Cecília, vai ao palco, cai na dança , entoando o tal hino recriado em homenagem a Boal... Eles, abraçados , pareciam envolvidos naquele invólucro da magia, dos amantes que verdadeiramente viveram um a história, que pra nossa sorte, teima em viver e ser lembrada.
Palmas e mais palmas, o show parece terminar e pedimos Bis... Então, todos os artistas encarnam o verdadeiro "curinga" de Boal.
Saio do show com a sensação de que Tom Zé não existe, de tão lúdico que é!!
La fora, vendas de cds, um LP e um livro... Eu ganho um cd da minha amiga Paula da Paz - e resolvo perder a vergonha e cair na tietagem - com direito a foto, abraços e beijos.
E torcer para que todo o arquivo de Boal seja merecidamente organizado e que venha a público ,seja pela internet ou nas bibliotecas, para conhecimento de todos os brasileiros, ligados ao teatro ou não.
(o arquivo gigante de Boal estava até pouco tempo com a esposa, que já pensa ha um tempo que esse material seja cuidado por uma instituição - encontrou muitas dificuldades nesse aspecto, principalmente de interesse cultural brasileiro e falta de verbas).
E também torço para Tom Zé fazer um show "só dele" ! Por enquanto, estou com o show ainda na cabeça, um cd e uma foto para a posteridade!!!